A Iniciativa “Um Sorriso, Uma Vida” foi apresentada no distrito de Mé-Zóchi, no âmbito da sua extensão paulatina por todo o país.
A apresentação foi feita pela presidente da Rede UAJSTP/SPD. Iracelma de Carvalho fez o histórico do processo que conta com o envolvimento do Ministério da Juventude, Desporto e Empreendedorismo, através do Instituto da Juventude e o financiamento do UNFPA.
Ela lembrou que “um dos objetivos da iniciativa é empoderar os adolescentes e jovens, para que tenham um comportamento responsável”. O lema: “Oportunidades para uma vida saudável e produtiva para adolescentes e jovens” traduz esta intenção.
A sessão permitiu uma interação enriquecedora na qual os participantes colocaram preocupações e esclareceram dúvidas. As associações juvenis representadas manifestaram-se determinadas em contribuir para a reduzir a gravidez na adolescência.
Adjelma Melo, em representação dos jovens reconheceu que “temos uma missão. Um dos nossos objetivos é ajudar na redução da taxa de gravidez precoce de 15% a 10% até 2030. Fomos capacitados com este objetivo e propomo-nos alcançar a meta com positivismo”.
O presidente da Câmara de Mé-Zóchi manifestou-se preocupado com o cenário no liceu e nas comunidades do distrito.
“Hoje, se pararmos, tanto no primeiro como no segundo período, na entrada de Belém a ver as raparigas que vêm do Liceu Manuela Margarido (MM) para casa, algumas delas estão com o uniforme a saturar. Porquê? Talvez, porque não registam algum conhecimento que recebem. E não é isso que queremos. Não podemos ter jovens que ainda têm muito a dar ao país já serem mães”, desabafou Américo de Ceita.
“Se formos a Bombaim, Água das Belas vemos meninas que não vêm a escola, porque o acesso não é fácil. Com 13 e 14 anos já são mães. Sem qualquer experiência de vida. Até atingirem 30 anos já têm cinco, seis filhos e netos”, acrescentou.
“Cada um dos representantes das Associações de Jovens das localidades tem a missão de levar mensagens positivas. Peço-vos a todos, neste lançamento para o distrito de Mé-Zóchi, em que foram preparados e formados, que ponham em prática tudo o que aprenderam. Espero que os mé-zochianos consigam dar réplica e fazer com que as coisas deem resultados positivos, porque precisamos organizar a nossa sociedade. O distrito e o país precisam”.
A representante do INPG considera que “reduzir a gravidez na adolescência, significa também diminuir o abandono escolar, encolher a taxa da violência baseada no género e o índice de trabalho precário”.
“A dimensão da gravidez precoce é nacional, por isso as ações devem abarcar todo o país. Temos estado no terreno a fazer palestras e outras atividades de sensibilização e conhecemos a realidade. Entretanto, queremos fazer um estudo para entender as causas do aumento da gravidez precoce, que também tem consequências preocupantes como o trabalho precário. Encontramos muitas raparigas nas artérias das nossas cidades a vender saldo (recargas de telefone) e o que é mais grave, elas estão com crianças menores expostas a todo o tipo de doenças”, acrescentou.
A Encarregada do Escritório do UNFPA destacou que “a Iniciativa pretende fazer diferente, tendo em conta a experiência acumulada ao longo dos anos com resultados pouco eficientes”.
“A diferença que estamos a ensaiar é: primeiro, ela enquadra-se numa autoridade distrital. Há um comité distrital, que além das associações juvenis do distrito, conta com um representante da câmara distrital e a associação mentora, que é a ARCOS. A vossa porta de entrada é a associação mentora e a câmara distrital. Não vale a pena enviar pedidos para o FNUAP, porque serão devolvidos para o comité distrital”, esclareceu Victória d’Alva.
“Há uma componente de mudança de comportamento que ainda não mencionamos. É o acesso aos serviços. Estou muito preocupada com o facto de passarmos a informação, incentivamos a mudança de comportamento, mas oferecemos muito pouco. Particularmente a escola, que nem preservativo oferece. Há um dilema com a escola. Se a escola não pode oferecer neste momento, como é que o distrito pode facilitar outros pontos de distribuição? A nível dos centros de saúde, como é que se pode dar um pouco mais de atenção a um ou uma jovem que aproxima do serviços? Se o senhor presidente da câmara conseguir melhorar a oferta dos serviços para os adolescentes em complemento da informação, Mé-Zóchi pode fazer a diferença”, propôs.
Para o ministro da Juventude, Desporto e Empreendedorismo, a iniciativa é de “extrema importância”. “Os jovens devem estar no centro das nossas atenções, no foco dos objetivos; tanto a nível individual quanto a das associações juvenis. É importante que as associações juvenis estejam devidamente informadas, engajadas para que nós possamos, de facto, alcançar os objetivos que pretendemos com esta iniciativa”.
“Uma das metas é reduzir o índice da gravidez indesejada, sobretudo na adolescência. Temos que trabalhar para reverte-lo. Associado a isso estão as doenças sexualmente transmissíveis. É importante que os nossos jovens, homens e mulheres, possam contribuir para o desenvolvimento sustentável. Esta contribuição só será possível se houver um crescimento saudável dos jovens”, acrescentou Vinício de Pina
Américo de Ceita entende que “é uma missão de todos nós. Só a Câmara não pode. Somos de Mé-Zóchi, temos que estar unidos e abrir para todo o distrito. O apelo que faço é para não concentrarmos apenas na capital do distrito. Gostaríamos de ter a contribuição do Ministério e do Instituto da Juventude na criação de associações. Há muitas comunidades com muitos jovens que não querem saber de organização, nem de nada. Só sabem exigir. Unidos conseguimos”.
O ministro, por sua vez, apelou aos jovens que “aproveitem ao máximo as formações que têm sido feitas, as associações se envolvam profundamente nesta iniciativa, porque afetará o nosso presente e, mais do que isso, o nosso futuro e o das próximas gerações”.
A representante do UNFPA garantiu que “não estão sozinhos. Mas é preciso que se apropriem do conceito e estejam organizados. Tudo o que é novo pode ter algumas dificuldades e vai-se ajustando. A ideia é que a sensibilização seja feita por associações do distrito de uma forma mais frequente, indo de encontro ao provérbio ‘a água mole em pedra dura, tanto bate até que fura’”.
De acordo com o MICS de 2019, a taxa de gravidez precoce ronda os 20% e não 15%.
“Se não fizermos nada, em vez de revertermos a tendência ela vai expandir, o que é gravíssimo. Tentem aqui no distrito mapear os agregados familiares em que estes fenómenos são mais frequentes para vermos a possibilidade de adotar alguma estratégia complementar. O relatório de IOF diz que os agregados familiares com números de filhos mais elevados a pobreza é mais propensa. Conjugando tudo isso, temos que fazer algo para contribuir na mudança de comportamento e no desenvolvimento do nosso país”, disse Victória d’Alva.