You are here

Trinta novas parteiras foram formadas no âmbito do “Apoio à aceleração da redução da mortalidade maternoinfantil” financiado pela União Europeia. Há 15 anos que esse tipo de formação não era feito. No processo, as mais experientes tiveram igualmente a oportunidade de atualizar os seus conhecimentos.

As jovens parteiras contam que “não foi fácil”.  «É o que nós dizíamos desde o início. Íamos empenhar-nos para que as utentes quando vissem o nosso trabalho dissessem: é realmente uma enfermeira. Queremos continuar assim. Sempre com aquela humildade e com aquele objetivo de tentar sempre fazer a diferença».

Luyscalia Cravid explicou a forma como pretendem fazer essa diferença. «A  enfermagem é uma caixa cheia de surpresas. Nós, as recém-formadas e as antigas vamos unir numa só voz, para que elas possam nos dar mais prática e nós com humildade aprendermos com elas, fazer uma força para dar resposta às famílias que vêm a nossa procura com um grito de sofrimento».

Ao terem conhecimento que a formação tinha como objetivo contribuir para diminuir a mortalidade materna infantil, o curso foi encarado com maior responsabilidade. «Tínhamos que nos dedicar muito para que pudéssemos extrair o máximo dos professores relativamente ao tema em questão», comentou Eula Carvalho.

A formação foi muito focalizada na criança e na mulher, sobretudo grávida. Teve uma componente prática. Depois do exame final foram submetidas a um estágio de seis meses de integração, para saberem como é que as coisas funcionam e como agir perante certas situações.

«Aprendemos as diversas formas de tratar a paciente, desde a preventiva até aos casos que requerem tratamento. A gravidez não é uma doença, mas o mau seguimento, pode gerar graves problemas na hora do parto e no pós-parto», disse Eula Carvalho.

As novas parteiras já estão enquadradas nas maternidades de hospitais, centros e postos de saúde do país. A fase é de adaptação e “está tudo a correr bem. A interação é boa com as enfermeiras antigas e o ambiente laboral é bom”.

Estão a pôr em prática o que aprenderam na escola. “Estamos aqui para ajudar a aliviar o sofrimento daquelas que nos procuram e de braços abertos para contribuir a dar a luz uma nova vida, o que é muito importante e gratificante”, referiu Luyscalia Cravid.

A realidade de cada distrito sanitário impõe soluções específicas para cada caso, sobretudo porque há um défice de médicos gineco-obstetras.

Na Região Autónoma do Príncipe, por exemplo, os profissionais lamentam as despesas com as evacuações para a maternidade central em São Tomé. «Aqui no Príncipe, é um bocado complicado, porque não temos nenhum obstetra. E surgem casos, que por uma razão de segurança, devido à descontinuidade geográfica, optamos por transferir para São Tomé. Não tem sido fácil. Mas por outro lado, há profissionais com alguma experiência e juntamo-nos a elas que têm um percurso mais longo e procurar resolver no que for possível», conta Eula Carvalho.

Em termos gerais, da avaliação feita neste pouco tempo de atividade nas regiões em que estão inseridas, chamam a atenção sobre a necessidade de se encontrar novas abordagens para reduzir o número de mulheres e adolescentes que recorrem aos serviços de maternidade para fazerem ou complementarem o aborto iniciado em casa ou devido à gravidez precoce. Porém, não é por falta de informação e de aconselhamento.


Maternidades apetrechadas com novos equipamentos.

As condições de atendimento nas maternidades melhoraram consideravelmente, também no quadro da mesma iniciativa. Outra componente da formação foi ensinar aos técnicos a utilizar os novos equi-pamentos. As parteiras com mais anos na profissão estão agora em melhores condições de prestar melhor serviço.

Guldier Afonso, enfermeiro geral, fez o complemento em obstetrícia. Trabalha na maternidade do Hospital Ayres de Menezes. “Agora posso dizer que sou um enfermeiro especialista em saúde materna e obstetrícia”, anunciou. É um dos poucos do sexo masculino, no meio de tantas enfermeiras parteiras, mas sente-se feliz. “Sou acarinhado por elas e vou continuar nessa profissão”.

Engrácia Semedo, por exemplo, é parteira há 15 anos. Está destacada no Centro de Saúde de Angolares. «A formação foi muito importante, veio-nos ajudar bastante. Passamos por todos os serviços: admissão, sala de parto, a área dos neonatos e as enfermarias. Aprendemos a aspirar as secreções dos bebés com os novos equipamentos, o que veio melhorar bastante a nossa prestação».

As novas competências adquiridas ajudaram a salvar um recém-nascido maternidade local, garantiu satisfeita. Existem ainda desafios, por isso é que as parteiras gostariam de continuar a ter oportunidade de atualizar os seus conhecimentos, porque “o mundo está em constante evolução e os profissionais têm que estar cada vez mais capacitados”.

Além disso, a classe não está completa. “Mas viemos ajudar as enfermeiras mais antigas e foi muito bom ter essa formação, porque há muitas grávidas agora, há muitos nascimentos e há mais mão-de-obra para ajudar a dar resposta a essas situações”.

O dinamismo que as novas parteiras têm demonstrado, tomando em mãos os casos que recebem até que o médico especialista chegue, particularmente na maternidade central, tem merecido o reconhecimento de responsáveis diretos.