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Dezenas de jovens concentraram-se no Centro de Interação Jovem de Ribeira Afonso para participar na ação de sensibilização contra a gravidez na adolescência.

“Na Ribeira Afonso, a gravidez na adolescência não é tão elevada, apesar de alguns adolescentes começarem a vida sexual ativa muito cedo. Acima de tudo, temos que fazer a nossa parte, sensibilizando, acompanhando para que não haja aumento desse tipo de casos”, defendeu uma ativista da Associação de Jovens Esperança de Ribeira Afonso (AJERA) e ex-deputada infantojuvenil.

Rebeca Sousa acrescentou: “a sensibilização envolve não só as raparigas, mas também os rapazes, porque a preocupação é de todos. Passamos informações práticas, ou seja, a partir de exemplos concretos de casos. Assim é mais eficiente”.

Questionada sobre as causas do fenómeno, ela ponderou que uma delas “é a curiosidade típica da adolescência de querer experimentar coisas novas”, na medida em que há muita informação e métodos contraceptivos disponíveis e gratuitos. Porém, “nem todos vão optar por usar esse tipo de proteção. Não conseguem dominar o seu próprio corpo”.

O seu colega, em contrapartida, não entende as motivações que levam os adolescentes a engravidar. “A associação faz muitas campanhas aqui na Ribeira Afonso, para aconselhar a sociedade local, em geral; os jovens a usar os métodos contraceptivos que são meios seguros de proteção. Mas as pessoas têm cabeça rija. Com tantas palestras que dão na escola, na comunicação social… Nós não sabemos qual é o fenómeno que impede as pessoas de interiorizar as mensagens para coisas boas”, disse Isaíde Santos.

Contudo, há um movimento de solidariedade. “Aqui, as meninas que engravidam durante a adolescência estão a continuar os seus estudos. Mas não colocamos de lado aquelas que desistem. Como colegas, tentamos saber o que precisam, de modo que tanto a mãe adolescente como o bebé se sintam relativamente confortáveis, para que a jovem não fique envergonhada por ter errado. Essa ajuda (com alimentos, materiais…), caso elas necessitem, sai do nosso bolso. A família também apoia, de uma certa forma”, contou Rebeca.

Seja como for, a gravidez na adolescência tem “consequências gravíssimas”.

“Aparentemente, o mundo vê a sociedade como feita para homens e pensa-se que só as meninas é que sofrem. Mas o sofrimento é para ambas as partes, embora elas padeçam mais. Por isso, as meninas deveriam tomar mais cuidado, durante o ato sexual para não engravidarem. Saber dizer não. Ou então exigir o uso de preservativo, que para além de evitar a gravidez, pode precaver contra outras doenças sexualmente transmissíveis”.

O apelo de Isaíde Santos é que os seus colegas sejam responsáveis. “Nós devemos pensar na nossa vida para termos um futuro. Uma gravidez indesejada neste momento, na conjuntura económica, social em que estamos, iria muito atrapalhar a vida dos jovens e, particularmente das meninas. Não iam conseguir continuar os estudos ou ter grande aproveitamento, devido aos sintomas de gravidez, ausência nas aulas e não iam ter uma aprendizagem eficaz”.

“Sejam responsáveis na hora de ter relações sexuais com o parceiro. Procure conhecê-lo, conheça o seu corpo para que possam ter um futuro feliz e satisfatório”, insistiu.

A ação de sensibilização para assinalar o Dia Mundial de Prevenção contra a Gravidez na Adolescência incluiu a apresentação de uma peça de teatro sobre o comportamento de jovens que querem “pipocar”, apesar dos conselhos de colegas para evitar esta via e a palestra do professor Elísio Camblé. Este orientou a sua abordagem na valorização da pessoa, através de quatro pilares.

“Não importa o que a vida já nos deu, mas o que podemos fazer agora, pela nossa própria decisão. Fazer do nosso nome, uma marca; algo procurado. Não é uma gravidez que faz perder tudo. Cair cedo, mais cedo se levanta e mais chance tem para o sucesso. O pai e/ou a mãe. Às vezes dão-nos conselhos, mas também precisam compreender que as adolescentes estão a carregar os nomes deles, quer queiram, quer não. E, por último, o país que muitas vezes detestamos. Mas tem-nos dado muito. O que é ser santomense? Imaginemos que viajamos para representar o país, na nossa biografia vai aparecer, nacionalidade: santomense. Natural de São Tomé ou do Príncipe. Não tem como dizer mal do país eternamente”, esclareceu.

O docente louvou “o esforço que as adolescentes grávidas têm feito na luta pela sobrevivência. Não é fácil. Muitas vezes, concentra-se muito no apoio que elas precisam. Mesmo tendo em conta o flagelo que cria no núcleo familiar”.

“Em suma, é encorajá-las; que nada está perdido. Um sorriso, uma vida e vamos avançar, porque vale a pena”, sublinhou Elísio Camblé.

O presidente da Associação de Jovens Unidos Rumo ao Trabalho (AJURT), Adley Bandeira, destacou que a sua organização está engajada na “implementação de políticas que visam a prevenção da gravidez na adolescência. É momento de incentivar a reflexão sobre os métodos contracetivos e a sua inclusão no nosso quotidiano, a fim de evitar uma gravidez não planejada ou uma DST (doença sexualmente transmissível). Desejou ainda que todos sejam “agentes de mudança de comportamento para prevenir a gravidez na adolescência”.

O diretor interino do Instituto da Juventude notou “com satisfação que o número de casos  de gravidez na adolescência tem diminuído. Significa que se não tivéssemos realizado palestras e outras atividades de sensibilização, a situação poderia ser mais grave. Enquanto associativistas, somos portadores da mensagem para os que estão ausentes. Temos a incumbência de aconselhar os outros a se prevenirem antes da relação sexual”.

Euridiney Pinto citou um dos lemas dos cartazes: “A ignorância não te protege”, para argumentar que “podemos falar de sexo sem tabu”.

“Desde os 14 anos, as crianças já falam de sexo. Não adianta ter este assunto como algo proibido, porque atrás de nós, vão manter alguma relação sexual. Para os que são pais e encarregados de educação convém conversar e educá-los sobre a gravidez, assim como de outras doenças”, acrescentou.

O nível de participação agradou a presidente da UAJSTP/SPD, apesar de ser um fim de semana. A opção de celebrar a efeméride na Ribeira Afonso deve-se ao facto do distrito de Cantagalo ter sido o escolhido para o arranque e implementação das atividades relacionadas com a Iniciativa “Um Sorriso Uma Vida”.

“É uma oportunidade para testarmos também o nível de informação e conhecimento que têm sobre as formas de evitar a gravidez na adolescência e, em função dos resultados, tomarmos medidas para aprofundar esses conhecimentos”, acrescentou Celma Carvalho, quem reiterou os agradecimentos ao FNUAP, “um parceiro que tem estado sempre ao nosso lado”.

Note-se que São Tomé e Príncipe comprometeu-se há dois anos na cimeira de Nairobi a reduzir a taxa de gravidez precoce de 15% para 10% até 2030.

A União de Associações Juvenis em matéria de Saúde, População e Desenvolvimento (UAJSTP/SPD) em colaboração com o Instituto da Juventude (IJ) assinalaram, na vila de Ribeira Afonso, o Dia Mundial de Prevenção contra a Gravidez Precoce.

A atividade, que se inseriu na Iniciativa “Um Sorriso, Uma Vida”, contou com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA).