A equipa móvel do Centro de Saúde do distrito de Lobata (norte da ilha de São Tomé), agora com o apoio da Clínica Móvel esteve na comunidade de Caldeiras e em Agostinho Neto. Caldeiras foi uma antiga dependência da roça Agostinho Neto, que na época colonial chamava-se Rio do Ouro, um dos principais latifúndios de produção de cacau.
Naquele princípio de tarde, Caldeiras, que fica num planalto, era uma comunidade calma, antes da chegada da equipa de Saúde Reprodutiva com a Clínica Móvel.
Dezenas de mães aproximaram-se para beneficiar dos serviços que iam ser prestados: pesagem, vacinação, suplemento de sal ferroso, desparasitação…enfim, todo o atendimento feito no Posto, esteve no terreno. Mas o grande número de crianças também despertou a atenção.
Alzira Moreira tem 38 anos e 7 filhos. 4 rapazes e 3 meninas. O mais velho tem 20 anos e a mais nova, ainda não completou um ano. Questionada se não faz planeamento familiar, respondeu que não.
- Por quê?
- Nada!
- Decidiu ter tantos filhos por quê?
- É meu gosto mesmo. Engravido e não posso tirar. Planeamento quase que não calha comigo. Experimentei injeção, não deu certo, Nem comprimido. Os outros, ainda não fiz.
Alzira aplaudiu o serviço na sua comunidade. “Assim, já não é necessário ir lá em baixo (Centro de Saúde de Guadalupe) e pode-se evitar essa doença de Coronavírus”.
Outra vantagem é a poupança com as despesas de transporte e o tempo necessário para ir e vir às consultas.
«Todos os meses ia para o Posto tratar das crianças. Íamos a pé e subíamos de moto. Às vezes apanhava boleia no caminho, às vezes não e chegava a Guadalupe a pé. São cerca de duas horas de caminhada a descer», explicou satisfeita com a presença da equipa de saúde na comunidade.
A enfermeira responsável pela Saúde Reprodutiva no distrito explicou a ocorrência destas situações por causa de tabus. “Ainda temos alguma barreira quanto ao planeamento familiar. Embora estejamos a reforçar a nossa sensibilização sobre o Planeamento Familiar, de forma a anulá-lo”, disse Sortiana Lima.
«Nas equipas móveis registamos pouca aderência ao Planeamento Familiar. Mesmo assim, continuamos a fazer a sensibilização. Depois de terminar todo o serviço, reunimos os jovens, todo o pessoal da comunidade, não só as mulheres, mas também os maridos para abordar o assunto numa pequena palestra. Falamos sobre os benefícios do Planeamento para uma família», acrescentou.
A Clínica Móvel representa um reforço na qualidade de serviço, porque permite “mais privacidade para tratar destas questões e a situação poderá melhorar”.
«Outrora, não incluíamos o pré-natal nas nossas deslocações. Hoje em dia, já é possível prestar este serviço com a nossa Clínica Móvel. Ela está bem apetrechada. Temos todo o equipamento e estamos aptas para fazer o atendimento. Falta apenas a aderência da população», observou a técnica de saúde.
Com a pandemia, o acesso aos Postos e Centros de Saúde diminuiu relativamente. “Desde que a criança não tenha a data da vacinação, as mães evitaram recorrer aos centros para fazer todo o controlo dos seus filhos”.
Por outro lado, existe o hábito de quando “as crianças atingem dois anos de vida, a própria população retira-as da fase de controlo normal. Mas as crianças menores de dois anos não têm grandes problemas, apesar da pandemia”, constatou Sortiana Lima.
Em contrapartida, na Praia Melão, Ginda Gaspar confrontou-se com outra situação por causa da Covid-19.
«No período de quarentena, fui ao Posto de Pantufo, mas disseram-me para ir para a capital. Não fui, porque já me tinham orientado que toda a mulher grávida devia ser atendida na localidade onde vive. Quando eles quisessem reabrir o posto para pesar e vacinar o meu filho, então iria. O meu filho vai fazer oito meses e todo este tempo estava a espera que o posto abrisse. Meu filho não pesava há quase dois meses», declarou.
Ginda manifestou-se satisfeita com a presença da equipa móvel de saúde do distrito de Mé-Zóchi. “Eu gostei como eles vieram aqui. Pesei o meu filho, deram gota…ele está saudável. Este serviço na comunidade é uma vantagem para mim”.
Aldjamila Diogo também gostou da “boa iniciativa”. “Quando uma pessoa não tem tempo para chegar ao Posto, com este serviço próximo de casa, aproveitei a oportunidade para fazer consulta. Nos últimos dois meses do período de confinamento não fiz consulta nem pesagem no Posto. No mês passado, retomei. E como ouvi que tem consulta hoje aproveitei e para seguir tratamento”.
Ela aconselhou que “todas as mães devem aproveitar esta oportunidade. Algumas estão na cozinha a preparar de comer para a sua família e se a equipa vier mais cedo, vão fazer o controlo”.
Praia Melão pertence ao distrito de Mé-Zóchi, no centro da ilha de São Tomé, mas está no litoral. É uma área piscatória.
Todos os serviços de Saúde Reprodutiva, segundo a enfermeira Elnária Alves, estavam disponíveis: saúde materna, consulta pré-natal, planeamento familiar, pesagem das crianças, vacinação, vitamina A para aquelas que deviam tomar, oferta de mosquiteiro impregnado e de preservativos aos senhores que vieram buscar.
Uma das preocupações é o reforço do Planeamento Familiar.
«O planeamento familiar é muito importante. As adolescentes estão a engravidar bastante. Estamos a conversar com todas essas mães para fazerem o planeamento familiar. Umas estão a aderir, mas outras ainda não querem fazer. As razões são diversas. Por exemplo, umas dizem que não têm marido, por enquanto; não estão a dar bem com os métodos ou simplesmente, não querem. Conseguimos convencer algumas a fazer. Concordaram, mas não foi possível concretizar. Temos de ter certeza de que não estão grávidas. Prometeram vir, quando tiverem a próxima menstruação», declarou a técnica responsável de Saúde Reprodutiva da Área de Saúde de Mé-Zóchi.
Com o financiamento do Fundo da Índia, mobilizado com o apoio do UNFPA, o sistema de saúde conta com três Clínicas Móveis, em condições de prestar serviço de qualidade nas comunidades mais periféricas.
Cada viatura serve duas áreas de saúde distritais de cada região: Norte, Lembá e Lobata; Centro, Água Grande e Mé-Zóchi; e Sul, Cantagalo e Caué. A coordenação é feita entre os delegados distritais que estabeleceram um calendário de deslocações com a supervisão do Programa de Saúde Reprodutiva e o acompanhamento do UNFPA.